sábado, 21 de março de 2009

TRÊS CENTAVOS



Talvez você não se lembre, ou não seja da sua época, porém, havia um quadro no Programa Sílvio Santos com o seguinte formato: uma pessoa numa cabine, com os ouvidos totalmente tapados. Sem que nada escutasse, o apresentador lhe fazia propostas às quais deveria responder “sim” ou “não”, surdamente. Era comum, por exemplo, trocar um carro zero por um cacho de bananas! Do lado de cá da telinha pessoas se compadeciam ou escarneciam, deliciavam-se dizendo de boca-cheia o seu “bem-feito” ou lamentavam-se piedosamente, de acordo com a sua índole. Cruel, mas verdadeiro.
Outra lembrança: Hardy, a hiena chorona, uma personagem de desenho animado interessantíssima. Não obstante as hienas sejam conhecidas por suas “gargalhadas” sem um flagrante porquê – o que seria motivo para serem tidas como incorrigíveis otimistas – Hardy era – num óbvio paradoxo - uma pessimista sindicalizada. Tinha um chavão: “Ó Vida! Ó azar!”. Tudo para ela estava ruim e, se não estava ainda, com certeza, logo ficaria. Lembro-me de um episódio em que ela e seu parceiro, o leão Lippy, perdidos em alto-mar, avistam uma ilhota e, de pronto, Hardy sentencia: “Ó vida! Ó azar! Deve estar cheia de canibais! ”.
Meus amigos, participei pela primeira vez como candidato a vereador em Piraí. Tive a oportunidade de conhecer melhor o município e melhor conhecer as pessoas. Quero registrar aqui o meu sincero agradecimento à todos os que votaram em mim e, também àqueles que não votaram, mas que o fizeram de forma consciente, que souberam, com sua honradez e espírito de cidadania, contribuir com o processo democrático. Meu muito obrigado!
Como diz John Maxwell: “Na vida ou se ganha, ou se aprende”. Considero, particularmente, o aprendizado uma vitória. Aprendi que uma eleição pode ser feita mais com cimentos e tijolos do que com idéias e compromissos. Aprendi, também, que nem sempre é assim. Aprendi que nem todos se deixam levar e não trocam, como no episódio bíblico, “a benção por um prato de lentilhas”. Aprendi, também, que há pessoas cansadas de uma política apequenada e baseada em favores pessoais. Homens e mulheres que não somente sonham, mas lutam. Aprendi que uns tantos se vendem, antes, durante e depois. Que uns poucos compram. Aprendi que, tantas vezes, apertos de mãos não dizem nada ou dizem exatamente o contrário do que querem dizer. Que uma eleição pode se ganhar ou se perder no dia. Aprendi que muitos de nós perdemos a esperança e que outros tantos a erguemos heroicamente. Aprendi que devemos continuar a lutar pelos nossos ideais, não obstante muitos os considerem ingênuos e utópicos. Aprendi e sou muito grato pela oportunidade.
E o que tudo isso tem a ver com o Silvio Santos e a hiena? Simples. Não se toma decisões importantes fechando os ouvidos à verdade, à voz da razão, valendo-se de uma surdez seletiva, apoiando-se em desculpas temporais, capengas, sob pena de nos tornarmos uma hiena chorona por longos quatro anos.
Digamos que, hipoteticamente, vejam lá! – hipoteticamente, eu disse! - alguém vendeu seu voto para vereador no “mercado eleitoral” por R$ 50,00. Sabendo-se que esse voto vale por quatro anos, ou seja, 1460 dias, tal pessoa obteve pelo seu voto a “vultuosa quantia” de R$ 0,03 ao dia!!! Por motivos diversos trocou a oportunidade de fazer valer sua opinião e deixou-se levar pela tentação do imediatismo e da “Lei de Gérson”. Votou em candidato desonesto. Sim, porque quem compra votos age desonestamente e quem vende, também. Se o candidato agiu tal forma durante e campanha, agirá, também, de forma igual ou pior caso eleito. O eleitor trocou uma oportunidade única por um... “cacho de bananas”. A título de comparação, o salário de um vereador em Piraí será em 2009 de R$ 4.644,01 mensais, ou seja, R$ 154,80 por dia.
Não se trata aqui de um desabafo ou de um amargor de quem não foi eleito. Não. Trata-se, fundamentalmente, de uma reflexão, a qual concluo com uma exortação à esperança. Como diz o poeta, cada novo dia em nossa vida é como uma “folha nova de um velho caderno”. Cabe a nós o que nele escrever. Temos escolha e como diria Confúcio:”Não corrigir os erros é o mesmo do que errar novamente”. É preciso refazer o caminho e crer que a mudança começa em nós. Que uma longa jornada é feita passo-a-passo.
A primavera é uma estação associada à vida nova, à esperança. É do poeta cubano Sylvio Rodriguez o belo verso: “Meu amor não aceita fronteira como a primavera não escolhe jardim.”

Escolhamos, pois, ser primavera, não nos importando qual jardim floresceremos em nosso caminho.
Um grande abraço,
Saulo Soares

Um comentário:

  1. Paulo Roberto dos Santos Alves2 de julho de 2012 às 17:23

    Acabo de ler o texto intitulado "TRÊS CENTAVOS", onde você narra a respeito de sua participação na eleição de 2008 e onde você coloca a sua opinião, bastante franca a respeito do assunto, que eu concordo plenamente, pois eleição é isso mesmo, bem colocado por você: "OU SE GANHA OU SE APRENDE", mas, não podemos deixar de destacar essas outras coisas que andam juntas às eleições, que são aquela sujeira que deixa o eleitor honesto e sedento para ver melhorias desanimado, uma dessas coisas é essa citada a título de exemplificação por você, da venda do voto, tem tambem os casos dos votos de cabresto, etc... Enfim são coisas que eu sinto que você é daqueles que buscam mudar esse panorama, já que busca uma política franca e honesta e onde o povo realmente tenha a sua vez de participar e opinar.

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