sábado, 7 de setembro de 2013

BAGAGEM

Trago na bagagem a miragem do que ainda verei.
Uns olhos sedentos de um colírio que, em tempos de delírio, inventei.
Trago o que sei e o que não sei... ainda.
 No bolso - o eu-moço -  e uma mensagem indecifrável (e linda).

Trago, num largo poço do peito, um laço e um nó desfeito,
O verde da Amador  e as andorinhas pousadas no fio.
Trago e os ofereço aos homens de toda a Terra,
Ao que acerta e ao que erra, as águas do meu rio.

Trago, de fato, a certeza de que em cada cidade
Habita um pouco de mim: (hei de encontrar-me inteiro!)
 Trago um não, um sim,
A beleza de um setembro e o calor de um janeiro.

Trago a crença de que o mundo é um só
E de que todos somos irmãos.
Trago o pão que, partido, une,
Que não pune por ser diferente,
Trago pão que se faz gente,
Trago gente que se faz pão.

Trago a mim e meu solitário caminho,
Trago o meu mundo para o mundo todo,
E o mundo todo pro diário do meu ninho.

Em Piraí ou noutro lado do planeta,
Entôo minha opereta, meu canto diverso, profundo, vago e verdadeiro:
O mundo é minha casa e minha casa é o mundo inteiro.