domingo, 17 de julho de 2011

LIBERDADE?


A liberdade é, antes de tudo, a liberdade de quem discorda de nós.” Rosa de Luxemburgo. De fato, o quanto nos aprisiona aceitar somente quem tem pensamentos iguais aos nossos. O quanto nos limita. Ter como “inimigo” quem apenas... discorda ou pensa diferente. Não nos odeia, nem trama planos contra nós, apenas ...discorda.

Entretanto, há liberdade e Liberdade. “A liberdade do lobo não pode justificar o extermínio dos cordeiros.” Isaiah Berlin. Ou seja, a liberdade, por si só, não nos diz muito se a ela não estiverem associados valores como Justiça, Amor, Verdade e Serviço. “Libertos para Servir”. Parece um paradoxo, mas é a mais pura verdade. A liberdade para o “mal” não é liberdade. João Paulo II, em Fides et Ratio, nos diz: “[...] Em outras palavras, a liberdade não se realiza nas opções contra Deus. Na verdade como poderia ser considerado um uso autêntico da liberdade, a recusa de se abrir àquilo que permite a realização de si mesmo?” E quanto o “outro” e o “serviço” nos realizam...

Por fim, um poema. Paul Eluard:

Nos meus cadernos de escola

Nas carteiras e nas árvores

Nas areias e na neve

Escrevo o teu nome

Em toda página lida

Em toda página em branco

Pedra papel sangue ou cinza

Escrevo o teu nome

Na minha porta de entrada

Nos objetos familiares

Nos ondas de fogo lento

Escrevo o teu nome

Em toda carne cedida

Na fronte de meus amigos

Em cada mão que se estende

Escrevo o teu nome

E ao poder de uma palavra

Reconheço minha vida

Nasci para conhecer-te

E chamar-te

Liberdade

terça-feira, 5 de julho de 2011

O QUE PENSEI PELA MANHÃ


Gratidão. Como é importante sermos gratos e como, invariavelmente, amigos, esquecemos de sê-lo. Dizem que os muçulmanos têm para a palavra “ser humano” a tradução: “aquele que se esquece”. E para Deus: “Aquele que se lembra”. Por essa razão, eles, variadas vezes ao longo dos seus dias, voltam-se para a cidade sagrada de Meca, para simplesmente lembrar-se Dele.

Recordo-me de Jesus. Continuamente dando graças ao Pai. A propósito: Eucaristia significa “ação de graças”, agradecer. Antes de realizar o milagre da multiplicação dos pães – assim como na ceia derradeira – Ele eleva os dons e... agradece ao Pai. Daí então se segue o milagre. O milagre é sucedâneo ao agradecimento.

Já nos demos conta de quantos “milagres” podemos realizar com pequenos gestos de gratidão? O quanto de bondade, de paz e harmonia podemos “multiplicar” em nossos relacionamentos, no nosso ambiente familiar e de trabalho?

Não, não sou daqueles que pretendem desmistificar os milagres de Jesus, de fazer reducionismos e dar outras versões. O que Ele fez foi, de fato, um milagre. Ponto. Sem duplas interpretações. O que pretendo dizer é: quantos ensinamentos podemos retirar dos milagres por Ele realizados. O mínimo agradecido pode multiplicar-se e tornar-se o “máximo”; pode a muitos “alimentar” com o pão da esperança e do bom convívio.

O que pensei pela manhã ficou comigo o dia inteiro. Multiplicou-se. Agradecer é reconhecer, no favor e gratuidade do outro, o próprio outro que se oferece. Agradecer é tornar agradável o ar que se respira em comum.

Agradecimentos e, em contraparte, reclamações. Murmuramos exageradamente... Sei disso; também sou assim. Basta um pequeno tropeço, uma mínima contrariedade para deixarmos claro nosso descontentamento. Esquecemos, rapidamente, a “montanha” de benefícios recebidos e os depositamos diante de uma “pedrinha” de aborrecimentos. Esquecemos. Parece termos uma espécie de “memória seletiva”. Apta e pronta para recordar o mal, porém frágil e débil para a lembrança do bem recebido. Esmaecida para a gratidão e em vivas tintas para sentimentos como a vingança e a falta de perdão.

Bela é a oração de Santo Inácio, que ora transcrevo: Toma, Senhor, e recebe toda a minha liberdade e a minha memória também. O meu entendimento e toda a minha vontade, tudo o que tenho e possuo Tu me deste com amor. Todos os dons que me deste com gratidão Te devolvo. Dispõe deles, Senhor, segundo a Tua vontade. Dá-me somente o Teu amor, tua graça. Isso me basta, nada mais quero pedir”.

O que pensei pela manhã, da semana passada, ficou comigo até o presente momento. Como um trigo que se planta, colhe, tritura, amassa, fermenta, coze e se transforma em pão. Graças a Deus!

Obrigado a todos vocês que agora me lêem e tem lido ao longo desses anos. Sou-lhes muito grato, de coração.

Grande abraço.