Este é o título de um interessante livro da Verus Editora. Os autores afirmam que o perdão é um processo com estágios bem definidos: negação (não admito estar magoado), raiva (a culpa é do outro), troca (somente vou perdoar se...), depressão (por que isso aconteceu comigo? É minha culpa!) e aceitação (finalmente aceito o fato de que posso e devo perdoar, tirando lições de todo o processo). Segundo eles, é preciso passar por estes estágios para que se consolide e dê frutos o perdão. Pular etapas, perdoar antecipadamente, sem uma boa reflexão, não seria lá muito indicado. O Papa João Paulo II tem uma frase de que gosto muito: “Não há paz sem justiça. Não há justiça sem perdão”. Notadamente nós correlacionamos a justiça com a punição, porém devemos estabelecer a mesma relação com a absolvição, com o perdão. Repare que o Papa coloca numa ponta da frase a paz e na outra o perdão. No meio, a justiça, bem parecido com a conhecida figura da balança. De fato para se obter a paz há que se perdoar. Etimologicamente a palavra perdoar – perdonare – significa doar-se além, perpassar a si mesmo em uma doação, per doar. Conheci uma pessoa que dizia que a palavra perdão não estava em seu dicionário. Triste pessoa. Ela também deveria riscar a palavra paz do seu vocabulário.
Nossa natureza parece estar mais afeita à vingança, do que ao perdão. Exige reparação dos “danos”, normalmente em proporção maior do que o mal que nos foi feito. Isso lá é justiça? Porém o interessante é que mesmo a vingança não nos satisfaz por completo. Ainda fica algo a se resolver, ou o medo de uma represália nos torna reféns da situação, inseguros e apreensivos. Carregamos esses fantasmas cheios de correntes por onde andamos. Ficamos presos a quem não perdoamos, dormimos com o inimigo. Dormimos mal.
Então, o que fazer? Parece que o bom senso nos pede para perdoar e seguir nosso caminho livre. Com efeito, perdoar é libertar-se. Mas não é fácil... Há quem diga que perdoa mas não esquece. É fato. O ato de perdoar não apaga as lembranças, é verdade. O Catecismo traz uma saída de mestre para o caso: perdoar não apaga a memória, mas purifica a lembrança. Ou seja, perdoando, cada vez que me lembrar do fato já não me valho do ressentimento e sim da intercessão. Não fico ressentindo o mesmo mal, recordo-o e, aos poucos, a raiva se torna oração pela pessoa que me ofendeu e por mim mesmo. Uma cura. Aliás, o Sacramento da Confissão ou Reconciliação para a Igreja está incluso nos sacramentos de cura! Ele – o Catecismo – diz: o perdão inaugura a cura. A ciência, se por um lado já aceita os benefícios da fé e da oração para o ser humano, também aponta doenças e malefícios oriundos dos maus sentimentos, das emoções negativas, dos rancores e do ódio. Ou seja: o bem faz bem, o mal faz mal. Elementar. Perdoar é um caminho possível, mas, com certeza, um caminho de subida...
Resolvi escrever sobre o perdão por causa das Cinzas e do Carnaval. Dizem que no Brasil o ano, as coisas só começam depois do Carnaval. Lembrei-me de uma frase: “Ao orar, começa perdoando”. Que tal começar o nosso “ano brasileiro” perdoando e traçando um novo caminho, mais livre e em paz consigo mesmo e com os outros? Faça um bem a si mesmo. Dê a si mesmo essa nova chance. Dê aos outros uma nova chance. Como diz a canção: Give peace a chance! (Dê uma chance à paz!).
O subtítulo daquele livro, Não perdoe cedo demais, é: estendendo as duas mãos que curam. Eu mudaria para: Não perdoe cedo demais... mas, perdoe.
Um grande abraço,
Saulo Soares
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