segunda-feira, 25 de junho de 2012

MOINHOS

Vem você no vento
Bater as asas do moinho.
Mói meu coração de brisa que
Sozinho vai ao chão.

Vem você nas águas
Mover as pedras do moinho.
Leva em quedas meu coração sem tempo,
Sem unguento, sem emplastro, sem vastidão.

Vem você escrava
Mover as engrenagens do moinho.
Como refazer-me o caminho das veias,
Se o amor em pó misturou-se ao trigo?
Como, nas ceias, em tua boca encontrar o abrigo?


LÍDICE-ANGRA

A boca do túnel tem sede de mar e curva.
Um turvo azul-claro-verde
Que sangra da Serra a poesia.

Eu dei nome aos morros,
Nomes que você não fantasia.
Lá preguei meus olhos na paisagem,
E me embriaguei do colírio que havia... miragem.

A Serra. A serra  nem mesmo Serra seria
Se não fossem as letras estreitas,
Sujeitas à poesia e à solidão.

A Serra é o túmulo onde um dia,
Sepultarei o acúmulo da minha alma em versos na vastidão.




PERTO


Longe, no que me tange, existe.
É onde mora a felicidade com triste hábito de monge.
Onde tem mangue, mar, rio, serra, campo e deserto.
Longe, no que me tange, é perto.

Longe, no que me tange é ali na esquina.
Na curva do pé de tangerina,
Tangente do coração de Carolina.

Longe, no que me tange, é tenaz.
Não é distância quilométrica, nem futuro incapaz.

Longe inatingível é o que passou,
O tempo que não volta atrás.
É o tormento, o que está antes do muro do nascimento.
É o mugido do boi dos ancestrais.