Amigo leitor, esta coluna pretende-se uma pequena
pausa no veloz ritmo que rotineiramente nos é imposto; um sopro no quente
copinho de café enquanto intui-se um pensamento bobo, qualquer, despretensioso. Nem mais, nem menos.
Dito isto, ocorreu-me a lembrança do
que observei, dia desses, numa sala de espera. Como se sabe – salvo exceções –
as salas de espera nos colocam em estranhas situações: pescoço levantado para
ver a televisão que chuvisca; pescoço abaixado para ler as revistas em que
chuviscam socialites em seu mundo
diverso, Photoshópico. Um meio
sorriso para a senhora do lado, um bocejar contido pelas mãos, um menear de
cabeça a discordar da notícia que se leu e, assim passa – muito devagar e numa
desconhecida dimensão – o tempo nas salas de espera.
No sofá em frente, um senhor: óculos
de lentes não muito espessas, armação sóbria e escura, bigode com fios
grisalhos e desalinhados, pele curtida pelo sol, sandália tipo franciscano,
gasta; calça social, camisa quadriculada com finas linhas na horizontal, um
pouco mais grossas na vertical e em graduação de cores, com fundo branco; gola
– uma em pé (como orelhinhas de cachorro) outra deitada – cabelos por cortar,
penteados com creme e para trás, onde as ondas teimavam em não lhe obedecer.
Suas mãos: calejadas, não se fechavam. Mãos sempre abertas, senhores!
Mas ele - não lhe disse amigo leitor
- tentava ler uma revista. Pois bem. Folhear uma por uma, as páginas, mas (que
pena!)... não conseguia. Suas grossas digitais não lhe permitiam tal suavidade.
A cada vez que ousava tentar, diversas folhas se passavam juntas, como os dias
de sua vida, suponho... Pobre senhor (poderíamos deduzir)! Lia e relia,
indefinidamente, a capa da revista. De fato, ele é quem tinha estórias a contar...
Senti pena, porém ele... sorria. Se vivo
fosse, um grande amigo diria que ele “ria que nem manteiga”. Tinha uma
sabedoria silenciosa, monástica e uma realeza que vai além do vão glamour. Rico senhor (diríamos, agora,
sem sombra de dúvida!)! Parecia, ao olhar as revistas, sentenciar: “Há pessoas
tão pobres, mas tão pobres, que só têm dinheiro...”
A vida é um pouco assim, paciente
leitor: dia após dia, trabalhando tanto e tanto mais, às golfadas o tempo vai
engolindo as horas, engrossando nossas mãos, calejando-nos o coração. Mas isso
é outra conversa...
(Publicado no Jornal CORREIO COMERCIAL da Associação Comercial e Empresarial de Barra do Piraí - Coluna "PAUSA PARA O CAFÉ").
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