quarta-feira, 19 de maio de 2010

FUSCA NÃO ANDA, DESFILA.


Essa era a frase em adesivo no vidro traseiro de um simpático fusquinha à minha frente. Conta o Senador Cristovam Buarque que, sob um calor de “derreter Catedral”: " [...]há alguns anos, em um sinal de trânsito, às duas da tarde, em Manaus, o motorista mostrou-me o fusquinha ao lado e disse: “Ele fecha os vidros para dar a aparência que seu carro tem ar-condicionado. Na hora percebi que aquele era um retrato do Brasil. Não importava sentir calor, mas sim aparentar ter ar-condicionado.”


E arremata: “[...] aprendemos a esconder a as aparências do que não interessa ver. Felizmente, descobrimos a podridão na superfície da política, que aparece graças às denúncias da mídia, mas não vemos a ferrugem na engrenagem da sociedade inteira, porque nem a mídia, nem todos nós queremos ver. Somos um povo não só de aparências, mas de aparências escolhidas.”


Quanto de balela há no marketing político? Em tantas alardeadas “realizações”? Quanto de aparência? Quanto de tudo isso, como diz Caetano, não é “proveito, é pura fama” ou é somente para inglês ver? Recentemente acompanhamos a briga pelos royalties do petróleo. O Senador Buarque fez, também, com justiça, uma defesa do Rio. Concordo plenamente com os direitos exigidos por nosso Estado. Porém, ele dá início a uma reflexão muito interessante: argumenta que “mesmo após décadas recebendo royalties, a quase totalidade dessas cidades têm IDH – Índice de Desenvolvimento Humano - entre o 745º e o 4178º no ranking nacional. Isso porque parte desses recursos é usada em gastos correntes, não em investimentos em longo prazo.” E, faz um alerta: “E quando o petróleo acabar, ou quando o preço despencar por força da crise ecológica ou do uso de fontes renováveis de energia? Cita, também, a “maldição do petróleo” que atingiu países que consomem suas reservas e gastam seus recursos visando somente o presente. Imediatistas como o personagem da parábola do filho pródigo.


Ora, não basta ter o recurso. Não obstante existam leis que determinem sua utilização, é preciso administrá-lo e aplicá-lo corretamente ou corremos o risco de andarmos na sauna de um fusquinha de vidros fechados mas aparentar estar sob o frescor do ar-condicionado. Ou, ainda, o que é pior, continuaremos a ver despencar Morros do Bumba por aí, tanto pela falta de investimento, quanto como fruto de uma política anã que incentiva a troca de votos por milheiros de tijolos e sacos de cimento, bem como a cessão de espaços e vista grossa para construções em área de risco.


Na coluna do Góis, no O GLOBO, há época do calor das discussões sobre o pré-sal, saiu a seguinte nota: “Sermão outro dia do padre Marcos Belisário, da Igreja dos Santos Anjos, no Leblon:


- Alguém sabe por onde anda o dinheiro dos royalties do Rio? Pelo menos, a Emenda Ibsen serviu para levantar esta lebre. Onde foram aplicados estes R$ 7 bilhões anuais?


É. Faz sentido.


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