Parte do meu final de semana é dedicada à
leitura de jornais e revistas. Até aí, nada de mais. Contudo, faço-o de tesoura
e caneta nas mãos. Tenho essa mania: recortar os artigos que penso serão
interessantes ou úteis para alguém. Descobri que é hereditário. Dia desses
encontrei uma pasta que pertencia ao meu pai repleta de recortes. Frases
sublinhadas, setas, exclamações, adendos, tudo com sua inconfundível letra
triangular.
Li,
pois, nesta faina semanal, com tristeza, a seguinte afirmação: “A esperança não transforma o mundo. Não
transforma sua vida. Sem querer ofender ninguém: a esperança se tornou
obsoleta”. Recortei, como de costume, porém... não tinha para quem
entregar. Fiquei por um bom (?) tempo a matutar. E aqui abro um parêntesis sobre o
tempo: “Pequena é a parte da vida que
vivemos. Pois todo restante não é vida, mas somente tempo.”, diz Sêneca...
Ora,
penso que a amarga autora confundiu o sentido que nós, os que esperamos, damos
à Esperança. Mas ainda: os que acreditamos ser ela – a Esperança – uma Virtude.
De fato, a Esperança não é inoperante ou
ineficaz. Lembro-me, por exemplo, da experiência do Professor Victor Frankl,
que nos afirmou que, nos Campos de Concentração, os que “esperavam” eram os que
sobreviviam. Ele esperou... Creio que o correto seria atribuir à teimosia a obsolescência
e ineficiência. Se me permite o leitor, citarei uma frase – desconheço o autor
– mas que por certo virá esclarecer-nos um pouco mais: “A teimosia é uma degeneração da perseverança”. Ora, a teimosia,
sim, é a insistência no erro, enquanto perseverança é persistir no que é justo,
correto e bom.
E
há entre a perseverança e a esperança muito mais do que uma simples rima: há um
tempo vivido, de uma forma especial vivido, vivido com fé.
O
que eu quero dizer com isso tudo é que já nos tiraram tantas coisas e nos
impuseram tantas outras mais, sem sequer nos perguntar se estávamos de acordo
ou não! Agora querem nos roubar a Esperança?!
Guardei
o recorte que fala da “morte” da Esperança (já que popularmente ela é a última
que morre!) e prometi-me não entregá-lo a ninguém. Talvez o queime em alguma fogueira
de São João...
Mas,
continuo com a mesma mania: jornais, revistas, canetas e tesouras. E esta me
levou a outro pequeno texto, este atribuído a Mario de Andrade: “...O essencial faz a vida valer à pena. E
para mim, basta o essencial!” E, para mim, Mário, a Esperança é essencial.
É a essência dos sonhos e, os sonhos a poesia da vida e, a vida, meu amigo, um
milagre cotidiano repleto de... Esperança.
Grande abraço,
Saulo Soares