sábado, 30 de outubro de 2010

DESESPERAR, JAMAIS!


Parte do meu final de semana é dedicada à leitura de jornais e revistas. Até aí, nada de mais. Contudo, faço-o de tesoura e caneta nas mãos. Tenho essa mania: recortar os artigos que penso serão interessantes ou úteis para alguém. Descobri que é hereditário. Dia desses encontrei uma pasta que pertencia ao meu pai repleta de recortes. Frases sublinhadas, setas, exclamações, adendos, tudo com sua inconfundível letra triangular.
         Li, pois, nesta faina semanal, com tristeza, a seguinte afirmação: “A esperança não transforma o mundo. Não transforma sua vida. Sem querer ofender ninguém: a esperança se tornou obsoleta”. Recortei, como de costume, porém... não tinha para quem entregar. Fiquei por um bom (?) tempo a matutar. E aqui abro um parêntesis sobre o tempo: “Pequena é a parte da vida que vivemos. Pois todo restante não é vida, mas somente tempo.”, diz Sêneca...
         Ora, penso que a amarga autora confundiu o sentido que nós, os que esperamos, damos à Esperança. Mas ainda: os que acreditamos ser ela – a Esperança – uma Virtude.
      De fato, a Esperança não é inoperante ou ineficaz. Lembro-me, por exemplo, da experiência do Professor Victor Frankl, que nos afirmou que, nos Campos de Concentração, os que “esperavam” eram os que sobreviviam. Ele esperou... Creio que o correto seria atribuir à teimosia a obsolescência e ineficiência. Se me permite o leitor, citarei uma frase – desconheço o autor – mas que por certo virá esclarecer-nos um pouco mais: “A teimosia é uma degeneração da perseverança”. Ora, a teimosia, sim, é a insistência no erro, enquanto perseverança é persistir no que é justo, correto e bom.
         E há entre a perseverança e a esperança muito mais do que uma simples rima: há um tempo vivido, de uma forma especial vivido, vivido com fé.
      O que eu quero dizer com isso tudo é que já nos tiraram tantas coisas e nos impuseram tantas outras mais, sem sequer nos perguntar se estávamos de acordo ou não! Agora querem nos roubar a Esperança?!
         Guardei o recorte que fala da “morte” da Esperança (já que popularmente ela é a última que morre!) e prometi-me não entregá-lo a ninguém. Talvez o queime em alguma fogueira de São João...
         Mas, continuo com a mesma mania: jornais, revistas, canetas e tesouras. E esta me levou a outro pequeno texto, este atribuído a Mario de Andrade: “...O essencial faz a vida valer à pena. E para mim, basta o essencial!” E, para mim, Mário, a Esperança é essencial. É a essência dos sonhos e, os sonhos a poesia da vida e, a vida, meu amigo, um milagre cotidiano repleto de... Esperança.

Grande abraço,


Saulo Soares

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