É de Nelson Rodrigues
a afirmação de que o óbvio é invisível. Dizia isso em relação aos lances
claríssimos de falta, pênalti, cometidos
nas barbas do árbitro que, inexplicavelmente, não “via”, não soprava o apito.
Entretanto, cada um tem sua forma de
enxergar as coisas. De Stanislaw Ponte Preta, contam que, em tenebrosas épocas,
foi obrigado a se desdizer. Ele afirmara que metade da Câmara era corrupta.
Então o fez: “Metade da Câmara não é
corrupta.” Vejam só! Desdisse e tudo ficou do mesmo jeito. Um copo está
meio cheio ou meio vazio? Depende... da sede.
Belíssima explicação foi a de um
Bispo a um não crente que questionou sobre como, na Eucaristia, poderia estar o
Corpo de Cristo, sendo que o corpo era muitas vezes maior que o pedacinho de
pão e, de como ele estaria presente tanto neste pedaço de pão como em outro ao
mesmo tempo. O Bispo respondeu – como bem sabem fazer os judeus – com outra
pergunta: “O que é maior: os olhos ou a paisagem? A pupila e a retina ou aquela
montanha? No entanto, a montanha “cabe” dentro dos olhos”. E, sobre a
concomitante presença de Cristo em vários pedacinhos de pão, argumentou: “Se
nos colocarmos diante de vários pedacinhos de espelho, não teremos nossa imagem
refletida inteiramente em cada um deles?”.
Deus, a quem alguns chamam de
“acaso”, meus amigos, é o óbvio invisível e ululante. É tão clara a sua
presença em nosso meio que chega a ofuscar! O livro da Sabedoria tem páginas
belíssimas sobre esse tema: “... pois é a partir da grandeza e beleza
das criaturas que, por analogia, se conhece o seu autor []... se eles possuíram
luz suficiente para perscrutar a ordem do mundo, como não encontraram eles mais
facilmente Aquele que é o seu Senhor?” (Sabedoria, 13).
O que não se vê, mais do que
invisível, pode se tornar temido. Talvez, por isso, muitos tenham medo de Deus.
Porém, não necessariamente... É atribuída a Joaquim Nabuco a seguinte frase: “A
força do desconhecido está em que ele não se presta à comparação.”
Deus, invisível, fez-se invisível na pessoa amorosa do Filho. “Senhor,
disse-lhe Filipe, mostra-nos o Pai e isto nos basta.” Respondeu Jesus: “Há
tanto tempo que estou convosco e não me conheces, Filipe! Aquele que me viu,
viu também o Pai.” (Jo, 14,8).
Para fechar com bom humor e, para
mostrar que facilmente nossos olhos podem ser levados para longe do foco que
realmente interessa (como o mundo pode desviar-nos o olhar de Deus), mais uma
do Sr. Stanislaw: Uma velhinha atravessava diariamente a fronteira com um saco
de areia na garupa e uma moto. O guarda olhava, vistoriava, abria o saco e
nada. Depois de vários dias o policial virou-se para ela e disse: “Sei que a senhora está contrabandeando
alguma coisa. Pode me dizer. Não vou prendê-la”. Ela, diante dos
insistentes pedidos do oficial, disse: “O
senhor não vai mesmo me prender?”. “Não. Pode ficar tranquila. Agora, diga: O que a senhora
contrabandeia? Ela respondeu: “Moto”.
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