terça-feira, 19 de janeiro de 2010

MANE NOBISCUM DOMINE



Sofrimento e sacrifício. O que os distingue? Certamente, o amor. Salvo engano, foi o Bispo Fulton Sheen o autor desta pertinente observação: sofrimento é a dor sentida por si só, sem amor; sacrifício é a dor vivida e envolvida em pleno amor. Não seria possível a redenção da humanidade se faltasse à missão de Cristo a dimensão do sacrifício, o qual Ele viveu plenamente por amor a nós e, por amor e obediência ao Pai.
No Haiti, diversas cenas nos comoveram e, somente aqueles que trazem uma pedra no peito, não se emocionaram diante de tudo aquilo. Mane Nobiscum Domine: Permanece conosco, Senhor. Esta é a tradução. E Lucas completa: “... pois cai a tarde e do dia já declina” (cf. Lc 24,29). A tarde caiu e o dia declinou em espessas trevas no Haiti.
Em situações trágicas é natural vir à nossa mente algumas pontuais frases bíblicas, tais como: Onde está o teu Deus? Ou ainda: Meu Deus, meu Deus por que me abandonaste? Estas, pinçadas assim, parecem dar razão e vitória à incredulidade, ao ateísmo e à desesperança. Parecem...
Luis Fernando Veríssimo escreveu uma interessante crônica comparando o “deus” de um religioso americano (que atribuiu a catástrofe Haitiana a um castigo dos Céus), ao Deus solidário de Zilda Arns, Deus esse que, como os seus filhos da Pastoral, acolhe as crianças: “... deixai vir a mim os pequeninos.” Mane Nobiscum Domine.
Quando vi na televisão a imagem da Catedral toda destruída e o Crucifixo em frente, íntegro, preservado, tomei-a para mim como um claro sinal da permanência de Deus a nos dizer: “ Eis que estou convosco todos os dias [...]” (Cf. Mt 28,20). Mane Nobiscum Domine. Ele permanece conosco.
Retomando o raciocínio inicial: como então, fazer, do sofrimento, sacrifício que salva? Derramando sobre toda dor o amor que se solidariza e se compadece. Mane Nobiscum Domine. O Deus, que em nós vive, fica conosco através de nós mesmos e de nosso amor pelos irmãos. Somente assim, encarnada, em vivas tintas, a religião encontra, entre os que aqui estamos, seu sentido maior. Dra. Zilda sabia deste “segredo”. Digo isso pois, outro momento que me impressionou foi, ao fim do Fantástico, ouvir Marília Pêra repetir as palavras do discurso de Zilda no Haiti. Tomo a liberdade de aqui as transcrever:

“Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos” significa trabalhar pela inclusão social, fruto da Justiça; significa não ter preconceitos, aplicar nossos melhores talentos em favor da vida plena, prioritariamente daqueles que mais necessitam. Somar esforços para alcançar os objetivos, servir com humildade e misericórdia, sem perder a própria identidade.
Cremos que essa transformação social exige um investimento máximo de esforços para o desenvolvimento integral das crianças. Este desenvolvimento começa quando a criança se encontra ainda no ventre sagrado da sua mãe. As crianças, quando estão bem cuidadas, são sementes de paz e esperança. Não existe ser humano mais perfeito, mais justo, mais solidário e sem preconceitos que as crianças. Como os pássaros, que cuidam de seus filhos ao fazer um ninho no alto das árvores e nas montanhas, longe dos predadores, ameaças e perigos, e mais perto de Deus, devemos cuidar de nossos filhos como um bem sagrado, promover o respeito a seus direitos e protegê-los. Muito obrigada! Que Deus esteja com todos! Zilda Arns.

Grande abraço,
Saulo Soares.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Dê sua opinião sobre o texto. Obrigado.