
Ainda bem
que chegou esta frente fria! Veio como um sopro de Deus nas geleiras trazido
por anjinhos encapuzados!
Agora sim,
vestirei meu casaco e fingirei fumar neblina. Olharei as luzes com sua órbita
distinta na névoa e as estrelas de azulinho brilharão com alegria. Terei bons
sonhos e o café um gosto amigo.
No esfregar
das mãos, quando vier a boca oferecer um hálito quente, o esboço de um beijo se
formará em nossas almas. Beijemos, pois, as mãos.
As andorinhas empoleirar-se-ão (até a mesóclise aparece nestes tempos!) no fio do pára-raios da Matriz de Sant’Anna, feito
um Rosário, um colar de pedras-vivas e, por serem vivas, muito mais preciosas.
E ao se tomar un traguito,
beber-se-ão também lembranças que nos embotarão os olhos como a manteiga de
cacau os lábios.
A Lua terá
seu halo, sua majestade, sua lunar santidade. Agora vejo o cobertor e o
chocolate quente, o cigarro com gosto de baunilha e as luvas cheirando a
naftalina.
O frio que
sinto não é o frio do mundo... É o quente-frio das palavras de lã e das manhãs despercebidas.
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