Lúcio de Mendonça. Fazíamos fila para entrar. Cantávamos hinos. Bandeira hasteada. Desse tempo muitas saudades e, hoje em especial, uma lembrança musical: “Bom dia nada custa ao nosso coração, que bom fazer feliz o nosso irmão! Por Deus se deve amar, amar sem distinção! Alô, bom dia, irmão!” Corrijam-me os contemporâneos a letra da canção. Pois bem. Li uma pequena estória com o seguinte título: “Você age ou reage?” Fala de alguém que sempre agradecia ao jornaleiro e este, impassível, não respondia. Questionado por que continuava a ser educado, respondeu: “Por que não? Por que eu iria deixar que fosse ele quem decidisse como eu devo agir?”.
Eis a chave: agir ou reagir? A maioria de nós reage. E, também na maioria das vezes, desproporcionalmente à ação.
Mas porque tudo isso? Bem, assim como o personagem da estória, havia alguém a quem eu sempre sorria, cumprimentava, dava bom dia e... nada.
Aquilo me incomodava sobremaneira: o que devo ter feito para que aquela pessoa fosse assim comigo? Eu sou muito distraído. Santo Deus! E, de sobra, não enxergo muito bem. Em algum momento, com certeza, de alguma forma eu a ofendi.
Coincidentemente, encontrei-me com ela num elevador e – num “descuido de sua parte” - entendi por que ela não me sorria: seus dentes, ou o que restaram deles. O meu comportamento exigia dela um sorriso que, creio, ela até gostaria de dar, mas que lhe causava constrangimento, suponho.
Como somos inaptos para julgamento! Objetivamente, sob a ótica da Lei, é preciso o julgamento – ainda que este também seja passível de erros. Afinal, faz parte da Justiça absolver, condenar. Entretanto, falo desses “julgamentos subjetivos”, pessoais, que exercemos diariamente sobre os outros e quase nunca sobre nós mesmos. É o que nos fala Jesus: “... com a mesma medida que julgardes sereis julgados... não julgueis para não serdes julgados...”. E nos exorta, aponta-nos um caminho: “... Sede misericordiosos...”.
O homem que não dava bom dia não era avaro de gentilezas, não, creio. Talvez até as tivesse de sobra, abundantemente e as desejasse compartilhar com muitos. Porém...
Atendi esses dias uma senhora que, igualmente, “não dava bom dia”. Lembrei-me das “cáries” de nossa alma. Ela ia falando e eu tentando imaginá-la como uma criança triste que a vida, por um desses motivos mais tristes ainda, roubou-lhe a capacidade de “dar bom dia”, de cantar aquela canção. Imaginei-a na fila do Lúcio de Mendonça, de blusa branca, saia azul marinho, bolso com o brasão do Estado do Rio de Janeiro, balançando as tranças ao ritmo da bandeira acariciada pelo vento, cantarolando. De repente, olha para mim, sorri e diz: bom dia. Diz aquela música na simplicidade dos seus versos: “e a gente, sem saber como e porquê, se sente feliz e sai a cantar uma alegre canção!”.
Grande abraço.
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