Sempre sorrindo,
curvada como nas saudações nipônicas, D. Hia esbanja disposição. Recebe pensão
lá no Banco. Por vezes a vi disputar (e vencer!) o que chamava de Grand Prix
Aposentados e Pensionistas, circuito que vai da porta de entrada aos guichês de
caixa. Diga-se de passagem: sem parar nos boxes!
Quando implantaram a fila única,
enquanto os demais concorrentes faziam a volta de apresentação, seguindo os
limites das linhas, D. Hia cortava caminho. Antes mesmo de cruzar a linha de
chegada já fazia gestos do que desejava: se o espelho do pagamento, numa mímica
mesclada com coreografia, colocava a mão em frente ao rosto; se conta de luz,
apontava para as lâmpadas; e assim vai D. Hia. Vai ou foi? Foi ou ia? Sei
não...
Maldosos, alguns, dizem que D. Hia
deveria chamar-se D. Foi. A meu ver: D. Hia-fingiu-que-foi-mas-não-foi.
Explico: sempre ao receber seu pagamento cumpre um ritual de trocados e
trocadilhos com as notas. Pergunta se tantas dessas equivalem a tantas daquelas
e... finge que vai. Volta e pede para trocar a de mil por duas de quinhentos
e... finge que vai. A de quinhentos por cinco de cem e... finge que vai.
Permita-me o leitor simplificar o nome de D. Hia para D. Hia Ioiô.
Há poucos dias, ao fim do
expediente, fui à Rodoviária para comprar umas revistas. Lá estavam, ela e sua
filha, sentadas em frente ao embarque. Quem pensou que D. Hia ia, enganou-se.
Era dia chuvoso e ofereceu-me sua sombrinha. Respondi (feito ela) imitando com
gestos um volante nas mãos. Entendeu, sorriu e ficou a esperar o ônibus em que
não viajaria. Lembrei-me não ser a primeira vez que a vejo neste mesmo horário
no embarque.
D. Hia foi a Banco com curativos nos
braços e, no rosto, arranhões e mercúrio cromo. Falou-me, rouca, que havia
caído na rua próxima a da padaria.
Disse-lhe algumas palavras de consolo e animação, despediu-se e, desta
vez... foi. Não queria espelho, saldo, pagamento. Desejava apenas compartilhar
um pouco de sua vida. Dias passaram e ela voltou, triunfal e sorridente. É...
D. Hia Iaiá!
Confesso que gosto de D. Hia e, por
mais que vá prefiro sempre que volte.
P.S.: Finalmente D.
Hia embarcou naquele ônibus. Destino: Eternidade.
Lindo texto, puro e bom. D.Hia, sempre a nossa frente, minha primeira professora.Publica no grupo da Ligth, muitos vão gostar. beijos...
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