Dizem que um repórter, ao ver Madre Teresa cuidar das feridas de um mendigo, virou-se para ela e disse: Não faria isso nem por um milhão! Ao que ela, serenamente, respondeu: Nem eu. Magnífica resposta! Daquelas do tipo: Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus; ou, ainda: quem não tiver pecado atire a primeira pedra. Emudece o interlocutor, põe um ponto final. Touché!
Fica claro que Madre Teresa não fazia aquilo por dinheiro. Era o amor que a movia. A moeda dos que amam é o amor, pois é ele quem dá valor aos atos. São Paulo nos recorda isto quando assevera: “Se não tivesse amor de nada valeria.”
Creio ter sido uma decisão acertada a escolha do tema “Economia e Vida”, e do lema: “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro.” (Mt, 6,24), para a Campanha da Fraternidade 2010. Interessante Jesus não colocar como opositor direto a Deus a figura do diabo e, sim, o dinheiro. A forma que Ele escolheu foi muito mais tangível, pontual. Não ficou na esfera etérea e cheia de nuvenzinhas e, sim, na crueza da realidade cotidiana, sem chances para outras interpretações.
Não se trata, aqui, de “demonizar” o Mercado, o dinheiro; embora eles, o consumismo insano e seus sinônimos comparsas, bem que o mereçam. Porém, “divinizá-lo”, nem pensar! Prestar a ele culto? Nunca. Supor que ele tudo resolverá é infantilidade. Que ele é justo: balela. Ele demonstrou-nos muito bem a sua ineficácia e fragilidade de seu modelo (especialmente durante a recente “crise financeira”), sua capacidade em sugar ao esgotamento os recursos naturais, sua incapacidade em repartir, sua extrema competência em poluir e destruir, a voracidade do seu lucro individualizado e de seu prejuízo socializado; sua predileção pelos os que detêm o capital, inversamente ao que se propõe no cristianismo.
Em I Tm 6,10 podemos ler: “... a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro.” Aqui há uma totalidade: todos os males têm como raiz o apego ao dinheiro e tudo o que ele representa, na ambição desmedida, no poder que confere. Por analogia: todo bem tem sua raiz no amor a Deus.
Havia um programa na televisão: Topa tudo por dinheiro. Não sei se ainda existe. Se não na telinha, está plenamente em voga no dia-a-dia, nos conchavos, nas meias e cuecas, nas bolsas de valores, no favorecimento de sentenças, no “Mercado”, nas “alianças”, na má política, nas propinas, nos escritórios.
Certo estava Belchior quando cantou em Paralelas: “... no escritório em que eu trabalho e fico rico, quanto mais eu multiplico, diminui o meu amor.”
Quem questiona essa prática mercadológica agressiva, visando única e objetivamente o lucro a qualquer custo, sem se importar com o demais, com a justiça social, em detrimento da ética, recebe, em meio a risinhos contidos, a seguinte interrogação-exclamação:“Tem alguma freira aqui?!”. Infelizmente, não. A verdadeira freira estava em Calcutá cuidando das feridas de Jesus presente no pobre. Hoje está no céu. “A quem quereis servir?” (Cfe. Js, 24,15).
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