sábado, 3 de maio de 2014

HORDAS ANCESTRAIS

Vi nos meus lábios
O sorriso do meu pai.
No apinhado dos dentes – ai! –
As emoções cravadas no osso...

Ouvi do fosso da garganta
A voz das cordas vocais das hordas ancestrais a gritar:
“Vai! Levanta e canta! Porque nós – ah! –  já não somos mais!”

Vi, na barba falha,
A cega navalha da vida e da morte.
No torto corte que emoldura o rosto
O tempo a dizer: “Isto posto, lancemo-lo à sorte:
Rasgar ou tecer?”

Vi o que não vejo comumente,
O que à luz do dia não percebo.
Vi, tarde demais e claramente,
O que deveria ter visto cedo e urgentemente.


Saulo Soares